terça-feira, 17 de setembro de 2013
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
apoplexia
no semblante ofuscado
que mais parece os olhos de um lobo
paira a sombra no peito rasgado
que arde mais que o fogo
assim o homem vê-se acoado
ainda que marche vencedor
sentindo as víceras acordado
entre maus dormidos sonhos de amor
marcos barreto
terça-feira, 26 de outubro de 2010
APELO AO BOM SENSO
*Artigo publicado por Marcos barreto (jornalista atuante na época) no sábado do dia 28 de agosto de 2004. Jornal Gazeta Centro Oeste, cidade de Campo Mourão, estado do Paraná. - válido para os dias de hoje.
O ano é eleitoral. Mais uma vez vamos obrigatoriamente escolher um dos candidatos a prefeito e vereador de nossa cidade. Para mim, é um tanto incômodo e até assustador pensar: quem devo creditar tal posição de extrema responsabilidade, equivalente a uma procuração dada às mãos de alguém que tomará decisões inerentes à minha vida como um todo. Sou sincero em dizer que isso não me anima nem um pouco. Sou um cidadão comum que, como todos, tenho a expectativa de uma vida melhor para mim e para os demais e, como a maioria pensante, sofro a indignação de sentir-me traído toda vez que vejo nossos representantes junto ao governo priorizando seus interesses particulares, como se o Brasil fosse a grande '' casa da mãe Joana''. Hoje todos nós sabemos que um cargo executivo é um grande negócio. Além de ser muito bem remunerado, é uma ótima oportunidade de bem relacionar-se. Posso dizer com toda a certeza do mundo que 99,0 % dos candidatos visam seus próprios interesses na corrida eleitoral.
Outro dia, participei de um jantar político onde um tal candidato em seu atrapalhado discurso insistia em frisar que pessoas de "bens" deviam votar em pessoas de "bens". A princípio, levei àquilo como um simples erro de concordância, se não fosse a audácia de um certo momento ele acrescentar, ''materiais'' isso mesmo! ele não se referia a pessoas de bem, de bom caráter, mas sim, a pessoas de bens materiais ou financeiros, tal como ele. Àquilo me deixou muito incomodado e, com certeza, tal candidato jamais terá meu voto.
Por mais alarmante que isso pareça ser, é a mais pura realidade. Por isso, apelo ao bom senso de todos nós os ''causadores'' disso tudo, para que no momento em que formos as urnas, tenhamos a certeza de que estamos fazendo a coisa certa para nossas vidas. Tudo o que nós somos como ser humano, depende dessa decisão. Analise seu candidato, suas propostas, seu passado, pesquise à respeito de sua vida. Tenha a certeza que seu candidato vai trazer benefícios à sua cidade. Não só ao seu bairro, luxuoso ou não, mas a todas as classes sociais, principalmente as mais necessitadas. Temos a arma do voto em nossas mãos, vivemos uma democracia fragilizada ,mas, mesmo assim, é uma democracia. Vamos usar isso ao nosso favor. Vamos fazer valer nossos direitos; mesmo que tenhamos que ir as ruas como faziam nossos jovens heróis nos tempos terríveis da ditadura, qual davam suas vidas à sacrifício para o bem comum. Hoje não temos mais a boca amordaçada, mas ainda não demos o grito tão almejado por aqueles que morreram em favor da justiça social. Não falo a respeito do nosso país somente; mas das Américas, da África, da Oceania, do Oriente Árabe e de todas as nações e continentes que sofrem com o abuso das classes dominantes. Deixo aqui registrado o meu apelo à você eleitor; faça a coisa certa. Não só para você, como fazem os hipócritas, mas para todas as pessoas: negros, brancos, pobres, ricos e, principalmente, aos 50 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da miséria, isto é, não comem sequer uma vez por dia.
O ano é eleitoral. Mais uma vez vamos obrigatoriamente escolher um dos candidatos a prefeito e vereador de nossa cidade. Para mim, é um tanto incômodo e até assustador pensar: quem devo creditar tal posição de extrema responsabilidade, equivalente a uma procuração dada às mãos de alguém que tomará decisões inerentes à minha vida como um todo. Sou sincero em dizer que isso não me anima nem um pouco. Sou um cidadão comum que, como todos, tenho a expectativa de uma vida melhor para mim e para os demais e, como a maioria pensante, sofro a indignação de sentir-me traído toda vez que vejo nossos representantes junto ao governo priorizando seus interesses particulares, como se o Brasil fosse a grande '' casa da mãe Joana''. Hoje todos nós sabemos que um cargo executivo é um grande negócio. Além de ser muito bem remunerado, é uma ótima oportunidade de bem relacionar-se. Posso dizer com toda a certeza do mundo que 99,0 % dos candidatos visam seus próprios interesses na corrida eleitoral.
Outro dia, participei de um jantar político onde um tal candidato em seu atrapalhado discurso insistia em frisar que pessoas de "bens" deviam votar em pessoas de "bens". A princípio, levei àquilo como um simples erro de concordância, se não fosse a audácia de um certo momento ele acrescentar, ''materiais'' isso mesmo! ele não se referia a pessoas de bem, de bom caráter, mas sim, a pessoas de bens materiais ou financeiros, tal como ele. Àquilo me deixou muito incomodado e, com certeza, tal candidato jamais terá meu voto.
Por mais alarmante que isso pareça ser, é a mais pura realidade. Por isso, apelo ao bom senso de todos nós os ''causadores'' disso tudo, para que no momento em que formos as urnas, tenhamos a certeza de que estamos fazendo a coisa certa para nossas vidas. Tudo o que nós somos como ser humano, depende dessa decisão. Analise seu candidato, suas propostas, seu passado, pesquise à respeito de sua vida. Tenha a certeza que seu candidato vai trazer benefícios à sua cidade. Não só ao seu bairro, luxuoso ou não, mas a todas as classes sociais, principalmente as mais necessitadas. Temos a arma do voto em nossas mãos, vivemos uma democracia fragilizada ,mas, mesmo assim, é uma democracia. Vamos usar isso ao nosso favor. Vamos fazer valer nossos direitos; mesmo que tenhamos que ir as ruas como faziam nossos jovens heróis nos tempos terríveis da ditadura, qual davam suas vidas à sacrifício para o bem comum. Hoje não temos mais a boca amordaçada, mas ainda não demos o grito tão almejado por aqueles que morreram em favor da justiça social. Não falo a respeito do nosso país somente; mas das Américas, da África, da Oceania, do Oriente Árabe e de todas as nações e continentes que sofrem com o abuso das classes dominantes. Deixo aqui registrado o meu apelo à você eleitor; faça a coisa certa. Não só para você, como fazem os hipócritas, mas para todas as pessoas: negros, brancos, pobres, ricos e, principalmente, aos 50 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da miséria, isto é, não comem sequer uma vez por dia.
rapidinhas
"Bom sentir o sangue fervilhar nas veias, quando ao compasso do músculo maior."
"Não me leve a mal,
mas se não quiser mais me levar,
deixe à mim, o pouco que me restou de ti,
e se hover um pouco de mim em ti, entenda:
o que zelo é o amor que prezo."
"bons livros podem salvar bons homens"
"como lua
face as fases errantes
vivo em reflexo um ser distante
hora crescente
hora minguante"
"vá então,
sem olhar para traz
pois trago partido,
nesse lado que se desfaz
um pedaço sentido,
daquilo que sempre soube
que iria acabar comigo"
Doente, insano,
completo e desalmado
Em versos que copreendo pouco
Vou de passo em passo
Voo cada vez mais alto.
"vejo estrelas no céu da sua boca"
"A morte é a expressão mais autêntica para a vida"
"nessa safra de incertezas
tudo que vem é posto à mesa
e o desprezo do acaso
faz com que as flores do meu vaso
sejam modestas em sua beleza"
"luz da lua alucinada, luzia...luciana..."
"senti falta de mim...mesmo achando um dó em si."
"Decorrente à tudo que acontece, uma verdade é absoluta: Nascemos sozinhos, vivemos sozinhos, morremos sozinhos. A ilusão (de não estarmos sós) é a barganha que temos com o universo."
"o universo conspira com aquele que transpira"
(by my self)
"Não me leve a mal,
mas se não quiser mais me levar,
deixe à mim, o pouco que me restou de ti,
e se hover um pouco de mim em ti, entenda:
o que zelo é o amor que prezo."
"bons livros podem salvar bons homens"
"como lua
face as fases errantes
vivo em reflexo um ser distante
hora crescente
hora minguante"
"vá então,
sem olhar para traz
pois trago partido,
nesse lado que se desfaz
um pedaço sentido,
daquilo que sempre soube
que iria acabar comigo"
Doente, insano,
completo e desalmado
Em versos que copreendo pouco
Vou de passo em passo
Voo cada vez mais alto.
"vejo estrelas no céu da sua boca"
"A morte é a expressão mais autêntica para a vida"
"nessa safra de incertezas
tudo que vem é posto à mesa
e o desprezo do acaso
faz com que as flores do meu vaso
sejam modestas em sua beleza"
"luz da lua alucinada, luzia...luciana..."
"senti falta de mim...mesmo achando um dó em si."
"Decorrente à tudo que acontece, uma verdade é absoluta: Nascemos sozinhos, vivemos sozinhos, morremos sozinhos. A ilusão (de não estarmos sós) é a barganha que temos com o universo."
"o universo conspira com aquele que transpira"
(by my self)
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
O CANDIDATO DO ANO
Depois que meu cunhado resolveu candidatar-se a vereador, Susana, minha mulher, não é mais a mesma. Passa o dia todo percorrendo as periferias com santinhos nas mãos promovendo "churrasquinhos" aqui e ali, tentando convencer todo mundo que seu irmão é a salvação daquele povo. O pior é que muitas vezes sou eu quem paga a conta. Sempre evitei compactuar com os devaneios da minha mulher mantendo-me longe dessas miseráveis "reuniões caça-votos”, mas dessa vez, não consegui encontrar um bom álibi e acabei sendo vítima da sua chantagem emocional.
O relógio marcava 21h30, impaciente, não via a hora de me mandar. Susana sempre foi metida a besta, agora tem dado uma de quem se importa com o povo. O seu discurso a favor do irmão me comoveria se eu não os conhecesse bem. Meu cunhado, por sua vez, é um playboy beberrão que não liga prá ninguém. Já foi preso duas vezes por não dar pensão aos filhos. Envolveu-se na política com a única meta de esticar o seu orçamento mensal. É o estereótipo perfeito para um "bom" político de carreira. Já era tarde e o bendito ainda não havia dado as caras. Em minha reflexão pessoal tentei entender como deixei Susana me convencer a tomar parte naquele engodo.
As pessoas do lugar eram simples. Uma casinha de madeira no coração da periferia denunciava a precária situação daquela numerosa família. Senti certa indignação, pois sabia que minha mulher em outra situação, nem olharia para a cara daquelas pessoas. Estávamos no quintal, pois a casa não comportava todos. Havia um grande número de pessoas que julguei ser parentes e vizinhos do anfitrião, que vieram com o único propósito de fazer uma "boquinha". Eu só queria ir embora.
Susana começou a me aporrinhar como se eu fosse o culpado pela irresponsabilidade do irmão. Notei que ela não agüentava mais dar desculpas pelo atraso do ordinário. A cerveja já tinha acabado, a carne era minguada e o povo ia aumentando. Era hilário ver as amigas peruas da minha mulher, cada uma com um celular, tentando encontrar o infeliz.
A coisa foi ficando tensa quando, na rua em frente a casa em que estávamos, aglomerou-se um grande contingente de arruaceiros e bêbados que gritavam reivindicando carne e cerveja. Minha mulher entrou em pânico. Nos meus vinte anos de casamento, nunca vi Susana praguejar tanto o nome do amado irmão. A coisa começava a ficar interessante.
Já eram 22h15 e nem sinal do famigerado. Fui saindo à francesa e entrei no meu carro que estava estacionado no lado de fora. De longe, observava todo o movimento. Não demorou muito e Susana veio em meu encalço, indignada por tê-la deixada sozinha e, como se não bastasse, me pediu dinheiro para comprar mais cerveja. Eu me sinto responsável pela moleza no trato com a minha mulher, mas prefiro "pagar" para não ter que ouvir. Dei o dinheiro barganhando minha permanência no carro, mesmo contrariada, concordou. Quando ainda estávamos no carro, meu cunhado deu o ar da graça. Com uma garrafa de uísque em uma das mãos, acompanhado de uma "senhorita" em trajes não muito ortodoxos que causou um "frisson" geral na galera que estava do lado de fora. O sujeito estava caindo de bêbado. Minha mulher pôs as mãos no rosto e suspirou profundo. Eu com uma expressão "preocupada" no semblante, ria como uma hiena em meus pensamentos. Devido ao fato, Susana fez com que eu voltasse ao tal "churrasquinho"; até achei a idéia interessante, pois queria ver o desfecho da situação.
Quando deu início ao "solene" discurso, percebi que as pessoas comentavam entre si: "este homem está bêbado"; "acho que eu conheço aquela uma que está com ele", "nossa! esse é o irmão da dona Susana?", Não consegui me conter e soltei uma gargalhada. Susana me deu um beliscão e parei de imediato.
Admito que o sujeito tem coragem, pois mesmo bêbado resolveu discursar. Como não conseguia ficar em pé, pegou uma cadeira e colocou em cima de uma mesa, improvisada como palanque, e sentou-se. Minha mulher começou a tremer de nervosa. Eu tremia, mas por vontade de rir. Iniciou-se então o esperado discurso:
"Povo da favela" - dessa vez até eu fiquei assustado - "muitos de vocês aqui não tem (hic!) recursos, para sequer embriagar-se direito. (hic!), Em meu mandato, (hic!) as pessoas de classe mais baixa, como vocês (hic!), terão acesso ao CARTÃO BEBÃO, é um projeto da minha autoria (hic!) que viabiliza a você, amigo favelado, a ter o seu direito garantido de tomar a sua CACHACINHA, no final do expediente, porque, (hic!) ninguém é de ferro! Além do CARTÃO BEBÃO, vou sugerir ao nosso estimado Senhor Presidente da República, que também gosta de um METANOL (hic!), acrescente uma garrafa da MARDITA nas cestas básicas do povo brasileiro, (hic!), pois como disse o próprio “JESUIS”, nem só de pão viverá o homem. (hic!) E tenho dito."
Terminado o discurso, um silêncio mórbido pairava no ar que só foi interrompido pelo choro desesperado da minha mulher. As pessoas se entreolhavam não entendendo absolutamente nada. Eu não tinha mais vontade de rir, estava preocupado em sair vivo dali. Meu cunhado, ainda sentado na cadeira em cima da mesa, pegou a garrafa que estava ao seu lado, virou a grandes goles o que havia sobrado do uísque e caiu para trás. Um homem, também embriagado que ouvia atentamente o discurso, começou a pular aos berros dizendo: "Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou!"
Marcos Barreto
O relógio marcava 21h30, impaciente, não via a hora de me mandar. Susana sempre foi metida a besta, agora tem dado uma de quem se importa com o povo. O seu discurso a favor do irmão me comoveria se eu não os conhecesse bem. Meu cunhado, por sua vez, é um playboy beberrão que não liga prá ninguém. Já foi preso duas vezes por não dar pensão aos filhos. Envolveu-se na política com a única meta de esticar o seu orçamento mensal. É o estereótipo perfeito para um "bom" político de carreira. Já era tarde e o bendito ainda não havia dado as caras. Em minha reflexão pessoal tentei entender como deixei Susana me convencer a tomar parte naquele engodo.
As pessoas do lugar eram simples. Uma casinha de madeira no coração da periferia denunciava a precária situação daquela numerosa família. Senti certa indignação, pois sabia que minha mulher em outra situação, nem olharia para a cara daquelas pessoas. Estávamos no quintal, pois a casa não comportava todos. Havia um grande número de pessoas que julguei ser parentes e vizinhos do anfitrião, que vieram com o único propósito de fazer uma "boquinha". Eu só queria ir embora.
Susana começou a me aporrinhar como se eu fosse o culpado pela irresponsabilidade do irmão. Notei que ela não agüentava mais dar desculpas pelo atraso do ordinário. A cerveja já tinha acabado, a carne era minguada e o povo ia aumentando. Era hilário ver as amigas peruas da minha mulher, cada uma com um celular, tentando encontrar o infeliz.
A coisa foi ficando tensa quando, na rua em frente a casa em que estávamos, aglomerou-se um grande contingente de arruaceiros e bêbados que gritavam reivindicando carne e cerveja. Minha mulher entrou em pânico. Nos meus vinte anos de casamento, nunca vi Susana praguejar tanto o nome do amado irmão. A coisa começava a ficar interessante.
Já eram 22h15 e nem sinal do famigerado. Fui saindo à francesa e entrei no meu carro que estava estacionado no lado de fora. De longe, observava todo o movimento. Não demorou muito e Susana veio em meu encalço, indignada por tê-la deixada sozinha e, como se não bastasse, me pediu dinheiro para comprar mais cerveja. Eu me sinto responsável pela moleza no trato com a minha mulher, mas prefiro "pagar" para não ter que ouvir. Dei o dinheiro barganhando minha permanência no carro, mesmo contrariada, concordou. Quando ainda estávamos no carro, meu cunhado deu o ar da graça. Com uma garrafa de uísque em uma das mãos, acompanhado de uma "senhorita" em trajes não muito ortodoxos que causou um "frisson" geral na galera que estava do lado de fora. O sujeito estava caindo de bêbado. Minha mulher pôs as mãos no rosto e suspirou profundo. Eu com uma expressão "preocupada" no semblante, ria como uma hiena em meus pensamentos. Devido ao fato, Susana fez com que eu voltasse ao tal "churrasquinho"; até achei a idéia interessante, pois queria ver o desfecho da situação.
Quando deu início ao "solene" discurso, percebi que as pessoas comentavam entre si: "este homem está bêbado"; "acho que eu conheço aquela uma que está com ele", "nossa! esse é o irmão da dona Susana?", Não consegui me conter e soltei uma gargalhada. Susana me deu um beliscão e parei de imediato.
Admito que o sujeito tem coragem, pois mesmo bêbado resolveu discursar. Como não conseguia ficar em pé, pegou uma cadeira e colocou em cima de uma mesa, improvisada como palanque, e sentou-se. Minha mulher começou a tremer de nervosa. Eu tremia, mas por vontade de rir. Iniciou-se então o esperado discurso:
"Povo da favela" - dessa vez até eu fiquei assustado - "muitos de vocês aqui não tem (hic!) recursos, para sequer embriagar-se direito. (hic!), Em meu mandato, (hic!) as pessoas de classe mais baixa, como vocês (hic!), terão acesso ao CARTÃO BEBÃO, é um projeto da minha autoria (hic!) que viabiliza a você, amigo favelado, a ter o seu direito garantido de tomar a sua CACHACINHA, no final do expediente, porque, (hic!) ninguém é de ferro! Além do CARTÃO BEBÃO, vou sugerir ao nosso estimado Senhor Presidente da República, que também gosta de um METANOL (hic!), acrescente uma garrafa da MARDITA nas cestas básicas do povo brasileiro, (hic!), pois como disse o próprio “JESUIS”, nem só de pão viverá o homem. (hic!) E tenho dito."
Terminado o discurso, um silêncio mórbido pairava no ar que só foi interrompido pelo choro desesperado da minha mulher. As pessoas se entreolhavam não entendendo absolutamente nada. Eu não tinha mais vontade de rir, estava preocupado em sair vivo dali. Meu cunhado, ainda sentado na cadeira em cima da mesa, pegou a garrafa que estava ao seu lado, virou a grandes goles o que havia sobrado do uísque e caiu para trás. Um homem, também embriagado que ouvia atentamente o discurso, começou a pular aos berros dizendo: "Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou!"
Marcos Barreto
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
terça-feira, 20 de abril de 2010
terça-feira, 9 de março de 2010
BENDITA BOCA MALDITA
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Poema em Linha Reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
METRÔ LINHA 743
Ele ia andando pela rua meio apressado
Ele sabia que tava sendo vigiado
Cheguei para ele e disse: Ei amigo, você pode me ceder um cigarro?
Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado
Dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado!
Disse: O prato mais caro do melhor banquete é
O que se come cabeça de gente que pensa
E os canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam
Porque quem pensa, pensa melhor parado.
Desculpe minha pressa, fingindo atrasado
Trabalho em cartório mas sou escritor,
Perdi minha pena nem sei qual foi o mês
Metrô linha 743
O homem apressado me deixou e saiu voando
Aí eu me encostei num poste e fiquei fumando
Três outros chegaram com pistolas na mão,
Um gritou: Mão na cabeça malandro, se não quiser levar chumbo quente nos cornos
Eu disse: Claro, pois não, mas o que é que eu fiz?
Se é documento eu tenho aqui...
Outro disse: Não interessa, pouco importa, fique aí
Eu quero é saber o que você estava pensando
Eu avalio o preço me baseando no nível mental
Que você anda por aí usando
E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando
Minha cabeça caída, solta no chão
Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e última vez
Metrô linha 743
Jogaram minha cabeça oca no lixo da cozinha
E eu era agora um cérebro, um cérebro vivo à vinagrete
Meu cérebro logo pensou: que seja, mas nunca fui tiete
Fui posto à mesa com mais dois
E eram três pratos raros, e foi o maitre que pôs
Senti horror ao ser comido com desejo por um senhor alinhado
Meu último pedaço, antes de ser engolido ainda pensou grilado:
Quem será este desgraçado dono desta zorra toda?
Já tá tudo armado, o jogo dos caçadores canibais
Mas o negócio aqui tá muito bandeira
Dá bandeira demais meu Deus
Cuidado brother, cuidado sábio senhor
É um conselho sério pra vocês
Eu morri e nem sei mesmo qual foi aquele mês
Ah! Metrô linha 743
FRINGE 2010
Cena do espetáculo SPIDERBOY VERSUS REWOLVERINE que estará em cartaz no teatro Odelair Rodrigues durante o FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE CURITIBA.
segunda-feira, 8 de março de 2010
sábado, 6 de março de 2010
sexta-feira, 5 de março de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
Um conto por Marcos Barreto
O CANDIDATO DO ANO
O CANDIDATO DO ANO
Depois que meu cunhado resolveu candidatar-se a vereador, Susana, minha mulher, não é mais a mesma. Passa o dia todo percorrendo as periferias com santinhos nas mãos promovendo "churrasquinhos" aqui e ali, tentando convencer todo mundo que seu irmão é a salvação daquele povo. O pior é que muitas vezes sou eu quem paga a conta. Sempre evitei compactuar com os devaneios da minha mulher mantendo-me longe dessas miseráveis "reuniões caça-votos”, mas dessa vez, não consegui encontrar um bom álibi e acabei sendo vítima da sua chantagem emocional.
O relógio marcava 21h30, impaciente, não via a hora de me mandar. Susana sempre foi metida a besta, agora tem dado uma de quem se importa com o povo. O seu discurso a favor do irmão me comoveria se eu não os conhecesse bem. Meu cunhado, por sua vez, é um playboy beberrão que não liga prá ninguém. Já foi preso duas vezes por não dar pensão aos filhos. Envolveu-se na política com a única meta de esticar o seu orçamento mensal. É o estereótipo perfeito para um "bom" político de carreira. Já era tarde e o bendito ainda não havia dado as caras. Em minha reflexão pessoal tentei entender como deixei Susana me convencer a tomar parte naquele engodo.
As pessoas do lugar eram simples. Uma casinha de madeira no coração da periferia denunciava a precária situação daquela numerosa família. Senti certa indignação, pois sabia que minha mulher em outra situação, nem olharia para a cara daquelas pessoas. Estávamos no quintal, pois a casa não comportava todos. Havia um grande número de pessoas que julguei ser parentes e vizinhos do anfitrião, que vieram com o único propósito de fazer uma "boquinha". Eu só queria ir embora.
Susana começou a me aporrinhar como se eu fosse o culpado pela irresponsabilidade do irmão. Notei que ela não agüentava mais dar desculpas pelo atraso do ordinário. A cerveja já tinha acabado, a carne era minguada e o povo ia aumentando. Era hilário ver as amigas peruas da minha mulher, cada uma com um celular, tentando encontrar o infeliz.
A coisa foi ficando tensa quando, na rua em frente a casa em que estávamos, aglomerou-se um grande contingente de arruaceiros e bêbados que gritavam reivindicando carne e cerveja. Minha mulher entrou em pânico. Nos meus vinte anos de casamento, nunca vi Susana praguejar tanto o nome do amado irmão. A coisa começava a ficar interessante.
Já eram 22h15 e nem sinal do famigerado. Fui saindo à francesa e entrei no meu carro que estava estacionado no lado de fora. De longe, observava todo o movimento. Não demorou muito e Susana veio em meu encalço, indignada por tê-la deixada sozinha e, como se não bastasse, me pediu dinheiro para comprar mais cerveja. Eu me sinto responsável pela moleza no trato com a minha mulher, mas prefiro "pagar" para não ter que ouvir. Dei o dinheiro barganhando minha permanência no carro, mesmo contrariada, concordou. Quando ainda estávamos no carro, meu cunhado deu o ar da graça. Com uma garrafa de uísque em uma das mãos, acompanhado de uma "senhorita" em trajes não muito ortodoxos que causou um "frisson" geral na galera que estava do lado de fora. O sujeito estava caindo de bêbado. Minha mulher pôs as mãos no rosto e suspirou profundo. Eu com uma expressão "preocupada" no semblante, ria como uma hiena em meus pensamentos. Devido ao fato, Susana fez com que eu voltasse ao tal "churrasquinho"; até achei a idéia interessante, pois queria ver o desfecho da situação.
Quando deu início ao "solene" discurso, percebi que as pessoas comentavam entre si: "este homem está bêbado"; "acho que eu conheço aquela uma que está com ele", "nossa! esse é o irmão da dona Susana?", Não consegui me conter e soltei uma gargalhada. Susana me deu um beliscão e parei de imediato.
Admito que o sujeito tem coragem, pois mesmo bêbado resolveu discursar. Como não conseguia ficar em pé, pegou uma cadeira e colocou em cima de uma mesa, improvisada como palanque, e sentou-se. Minha mulher começou a tremer de nervosa. Eu tremia, mas por vontade de rir. Iniciou-se então o esperado discurso:
"Povo da favela" - dessa vez até eu fiquei assustado - "muitos de vocês aqui não tem (hic!) recursos, para sequer embriagar-se direito. (hic!), Em meu mandato, (hic!) as pessoas de classe mais baixa, como vocês (hic!), terão acesso ao CARTÃO BEBÃO, é um projeto da minha autoria (hic!) que viabiliza a você, amigo favelado, a ter o seu direito garantido de tomar a sua CACHACINHA, no final do expediente, porque, (hic!) ninguém é de ferro! Além do CARTÃO BEBÃO, vou sugerir ao nosso estimado Senhor Presidente da República, que também gosta de um METANOL (hic!), acrescente uma garrafa da MARDITA nas cestas básicas do povo brasileiro, (hic!), pois como disse o próprio “JESUIS”, nem só de pão viverá o homem. (hic!) E tenho dito."
Terminado o discurso, um silêncio mórbido pairava no ar que só foi interrompido pelo choro desesperado da minha mulher. As pessoas se entreolhavam não entendendo absolutamente nada. Eu não tinha mais vontade de rir, estava preocupado em sair vivo dali. Meu cunhado, ainda sentado na cadeira em cima da mesa, pegou a garrafa que estava ao seu lado, virou a grandes goles o que havia sobrado do uísque e caiu para trás. Um homem, também embriagado que ouvia atentamente o discurso, começou a pular aos berros dizendo: "Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou!"
Marcos Barreto
O CANDIDATO DO ANO
Depois que meu cunhado resolveu candidatar-se a vereador, Susana, minha mulher, não é mais a mesma. Passa o dia todo percorrendo as periferias com santinhos nas mãos promovendo "churrasquinhos" aqui e ali, tentando convencer todo mundo que seu irmão é a salvação daquele povo. O pior é que muitas vezes sou eu quem paga a conta. Sempre evitei compactuar com os devaneios da minha mulher mantendo-me longe dessas miseráveis "reuniões caça-votos”, mas dessa vez, não consegui encontrar um bom álibi e acabei sendo vítima da sua chantagem emocional.
O relógio marcava 21h30, impaciente, não via a hora de me mandar. Susana sempre foi metida a besta, agora tem dado uma de quem se importa com o povo. O seu discurso a favor do irmão me comoveria se eu não os conhecesse bem. Meu cunhado, por sua vez, é um playboy beberrão que não liga prá ninguém. Já foi preso duas vezes por não dar pensão aos filhos. Envolveu-se na política com a única meta de esticar o seu orçamento mensal. É o estereótipo perfeito para um "bom" político de carreira. Já era tarde e o bendito ainda não havia dado as caras. Em minha reflexão pessoal tentei entender como deixei Susana me convencer a tomar parte naquele engodo.
As pessoas do lugar eram simples. Uma casinha de madeira no coração da periferia denunciava a precária situação daquela numerosa família. Senti certa indignação, pois sabia que minha mulher em outra situação, nem olharia para a cara daquelas pessoas. Estávamos no quintal, pois a casa não comportava todos. Havia um grande número de pessoas que julguei ser parentes e vizinhos do anfitrião, que vieram com o único propósito de fazer uma "boquinha". Eu só queria ir embora.
Susana começou a me aporrinhar como se eu fosse o culpado pela irresponsabilidade do irmão. Notei que ela não agüentava mais dar desculpas pelo atraso do ordinário. A cerveja já tinha acabado, a carne era minguada e o povo ia aumentando. Era hilário ver as amigas peruas da minha mulher, cada uma com um celular, tentando encontrar o infeliz.
A coisa foi ficando tensa quando, na rua em frente a casa em que estávamos, aglomerou-se um grande contingente de arruaceiros e bêbados que gritavam reivindicando carne e cerveja. Minha mulher entrou em pânico. Nos meus vinte anos de casamento, nunca vi Susana praguejar tanto o nome do amado irmão. A coisa começava a ficar interessante.
Já eram 22h15 e nem sinal do famigerado. Fui saindo à francesa e entrei no meu carro que estava estacionado no lado de fora. De longe, observava todo o movimento. Não demorou muito e Susana veio em meu encalço, indignada por tê-la deixada sozinha e, como se não bastasse, me pediu dinheiro para comprar mais cerveja. Eu me sinto responsável pela moleza no trato com a minha mulher, mas prefiro "pagar" para não ter que ouvir. Dei o dinheiro barganhando minha permanência no carro, mesmo contrariada, concordou. Quando ainda estávamos no carro, meu cunhado deu o ar da graça. Com uma garrafa de uísque em uma das mãos, acompanhado de uma "senhorita" em trajes não muito ortodoxos que causou um "frisson" geral na galera que estava do lado de fora. O sujeito estava caindo de bêbado. Minha mulher pôs as mãos no rosto e suspirou profundo. Eu com uma expressão "preocupada" no semblante, ria como uma hiena em meus pensamentos. Devido ao fato, Susana fez com que eu voltasse ao tal "churrasquinho"; até achei a idéia interessante, pois queria ver o desfecho da situação.
Quando deu início ao "solene" discurso, percebi que as pessoas comentavam entre si: "este homem está bêbado"; "acho que eu conheço aquela uma que está com ele", "nossa! esse é o irmão da dona Susana?", Não consegui me conter e soltei uma gargalhada. Susana me deu um beliscão e parei de imediato.
Admito que o sujeito tem coragem, pois mesmo bêbado resolveu discursar. Como não conseguia ficar em pé, pegou uma cadeira e colocou em cima de uma mesa, improvisada como palanque, e sentou-se. Minha mulher começou a tremer de nervosa. Eu tremia, mas por vontade de rir. Iniciou-se então o esperado discurso:
"Povo da favela" - dessa vez até eu fiquei assustado - "muitos de vocês aqui não tem (hic!) recursos, para sequer embriagar-se direito. (hic!), Em meu mandato, (hic!) as pessoas de classe mais baixa, como vocês (hic!), terão acesso ao CARTÃO BEBÃO, é um projeto da minha autoria (hic!) que viabiliza a você, amigo favelado, a ter o seu direito garantido de tomar a sua CACHACINHA, no final do expediente, porque, (hic!) ninguém é de ferro! Além do CARTÃO BEBÃO, vou sugerir ao nosso estimado Senhor Presidente da República, que também gosta de um METANOL (hic!), acrescente uma garrafa da MARDITA nas cestas básicas do povo brasileiro, (hic!), pois como disse o próprio “JESUIS”, nem só de pão viverá o homem. (hic!) E tenho dito."
Terminado o discurso, um silêncio mórbido pairava no ar que só foi interrompido pelo choro desesperado da minha mulher. As pessoas se entreolhavam não entendendo absolutamente nada. Eu não tinha mais vontade de rir, estava preocupado em sair vivo dali. Meu cunhado, ainda sentado na cadeira em cima da mesa, pegou a garrafa que estava ao seu lado, virou a grandes goles o que havia sobrado do uísque e caiu para trás. Um homem, também embriagado que ouvia atentamente o discurso, começou a pular aos berros dizendo: "Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou!"
Marcos Barreto
quarta-feira, 3 de março de 2010
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